domingo, 28 de junho de 2009

um seriado de TV

O lugar onde eu moro agora tem muito mais estrelas do que eu morava antes.
Entenda isso da forma literal e de todas as formas não-literais que possam existir. Eu vivi uma vida muito louca até agora, e não há nada que indique que isto irá mudar. Uma vez "alguém" me disse que a vida não é um filme ou um seriado de TV. Parece que eu nunca vou conseguir acreditar nisso. Talvez o meu demasiado gosto por cinema e literatura tenham me condicionado a isto; a ver a vida de forma romanceada. Entretanto eu não me queixo, por que cada passo meu tem uma trilha sonora, e o meu céu tem menos ou mais estrelas, mas sempre tem estrelas.
É algo do tipo "pelo simples prazer de caminhar". Minhas ações não tem muita lógica, meus sentimentos, menos. Mas as coisas acontecem. Minha vida acontece.
E ela tem música e estrelas.

terça-feira, 23 de junho de 2009

os livros são rosas

Conversar e ler são, sem dúvida alguma, as duas coisas que eu mais gosto de fazer na vida. Conversar, conforme justifica Montaigne, é "o mais proveitoso e natural exercício de nosso espírito. Acho mais doce o seu uso que o de nenhuma outra ação de nossa vida". Ler, por que me leva pro mais próximo que possa estar do sentimento de liberdade, inocência e afeição. Que dor ao saber dos barbitúricos do Trujimán, que melancolia pela morte que Juan colheu, como que orquestrada pelo chirrin chirrión do diabo (quem lembra?), que tudo dá e tudo tira ao final. Mas também que alegrias pelos momentos mágicos de Ricardito, quantos olhares amorosos ao ler suas breguices e também, por que não, quantos momentos de excitação ao vê-lo narrar, milimetricamente, cada parte do corpo da peruanita, seu objeto de devoção.
Me peguei hoje, enfiada no trem, alisando carinhosamente as páginas deste livro, como já fiz com tantos outros e me obrigando a certas pausas tumultuadas para me recobrar da comoção de algumas passagens. É por isso que num dia frio e chuvoso como o de hoje, com a van da faculdade tendo me esquecido, eu chego em casa faminta e ensopada, mas totalmente feliz pelos momentos que passei na companhia do bom menino e da menina má nas 2 horas de percurso entre ônibus(s) e trem até meu apartamento.

ps: o livro referido no post é Travessuras da Menina Má, de Llosa, minha paixão atual.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

O Show de Truman

O filme “O Show de Truman” conta a história de um homem que é monitorado 24hrs por dia desde o seu nascimento para um programa “revolucionário” de reality show. Para que isso seja possível um ‘mundo paralelo’ é criado onde Truman irá crescer e se desenvolver submetido aos olhares de um público e orquestrado por roteiristas que ele sequer conhece. Nesse mundo, um mundo ideal, as coisas acontecem do modo como “deveriam acontecer”, segundo o criador do show. Os comportamentos são monitorados, o que faz com que as pessoas ajam de forma mecânica, sem as paixões, pulsões e até transgressões da vida natural. O comportamento de Truman, embora não tão regulável, acaba também adaptado a este ambiente, e logo temos um personagem que dança conforme a musica que lhe tocam. Truman mostra-se extremamente previsível no inicio do filme, suas atitudes e escolhas no dia-a-dia podem ser medidas da mesma forma que a quantidade de chuva ou sol falsos do cenário ao qual faz parte. Mesmo a grande fobia, desafio que terá de ser enfrentado por Truman ao final de sua epopéia – o medo de água – foi manipulado através do que, poderíamos chamar, um evento traumático na vida do personagem. Além de nos falar sobre comportamentos, não só os manipuláveis do ‘mundo de Truman’, mas os manipuláveis pela mídia, que “compramos” dia-a-dia; o filme nos trará a importância de mudanças, que quebram paradigmas, círculos viciosos e libertam. Nos trará a importância da espontaneidade e de como essas coisas só são alcançadas através de enfrentamentos, não somente externos, mas principalmente dos nossos roteiros internos, que nós mesmos pré-determinamos e que seguimos compulsivamente dia após dia sem nos questionar.
É interessante notar que nada se sabe sobre os pais biológicos de Truman e que, portanto, não se pode mensurar que tipo de heranças estes podem ter deixado a ele. Entretanto, vê-se claramente o quanto ele é produto de seu meio. Sua personalidade, visão de mundo e comportamento são regidos pelo ambiente que o cerca e pelas experiências vividas junto aos atores designados para serem seu pai, mãe, amigos e etc. Nada pode corroborar melhor esta afirmação do que o fato dele ter permanecido tantos anos neste sistema sem desconfiar de nada.
Truman foi ensinado, quase treinado, a ser o grande astro de reality show e ele desempenhava perfeitamente este papel. No entanto, há um evento na vida de Truman que foge a todos os planejamentos: Sylvia. A atriz inconformada consegue fazer com que Truman olhe para sua própria vida, para os acontecimentos, de outra forma. Por muito tempo ele preferirá se acomodar e conviver com a vida que lhe é apresentada, mas quando definitivamente resolver enfrentar suas questões internas, é nessa relação de apoio genuíno que teve um dia, onde encontrará forças para seguir os objetivos e mudar de comportamento, de visão e, literalmente, de mundo. Truman terá que reaprender a viver, reaprender o mundo, reaprender as relações, enfim, terá de fazer novas conexões que resultarão em novos comportamentos e numa nova vida.
É difícil, ao se deparar com o grau de realidade e mesmo de possibilidade que há no filme, não nos perguntarmos onde é que estamos nesse contexto. O mundo moderno é de fato o mundo dos reality shows. De livre consentimento, sim! Mas até que ponto menos nocivos? E até que ponto não estamos todos nós submersos no mundo do “Grande Irmão”, tendo nossas atitudes coordenadas pelo estilo de vida midiático; nossas escolhas, pelo mais bem construído slogan? Até que ponto não somos nós mesmos pessoas comerciais? Até que ponto não vendemos a nossa imagem enquanto compramos (e descartamos após uso) a de outros? Existe uma vida moderna controlada não somente pela cultura e regras sociais, mas pela opressão da velocidade e da pressa, do consumismo, da alienação. A reflexão cabe a nós, futuros psicólogos, enquanto estudantes do comportamento humano; e a nós, como seres humanos integrais, enquanto roteiristas principais de nossa própria atuação.

resenha obrigatória pra cadeira de Funcionalismo, mas que vale como indicação..
pra quem nunca viu: vejam! filmaço!

bjus "procêis" (em homenagem ao mês) ^^

quinta-feira, 18 de junho de 2009

me chicoteia, Bauman!

Finalizando o semestre..
todas as questões humanas da comtemporaneidade me cercando em psico social..
a cadeira de testes me perguntando, semana após semana, se eu sou útil? se eu sou feliz? se eu sei me relacionar?
os mártires ou não de "Nós que aqui estamos por vós esperamos" me pondo de joelhos na aula de antropo..
e Bauman.. martelando na minha cabeça dia após dia..
Eu realmente não me sinto capaz de escrever sobre isso.
Mas então eu me lembrei de uma música.. The Logical Song, Supertramp
e olha só.. lê com atenção..

Quando eu era jovem
Parecia que a vida era tão maravilhosa
Um milagre, oh ela era tão bonita, mágica
E todos os pássaros nas árvores
Estavam cantando tão felizes
Oh alegres, brincalhões, me observando

Mas aí eles me mandaram embora
Para me ensinar a ser sensível
Lógico, oh responsável, prático
E me mostraram um mundo
Onde eu poderia ser muito dependente
Doentio, intelectual, cínico

Tem vezes, quando todo o mundo dorme
Que as questões seguem profundas demais
Para um homem tão simples
Por favor, me diga o que aprendemos
Eu sei que soa absurdo
Mas por favor me diga quem eu sou

Eu digo: Agora cuidado com o que você diz
Ou eles vão te chamar de radical
Um liberal, oh fanático, criminoso
Você não vai assinar seu nome?
Gostaríamos de sentir que você é
Aceitável, respeitável, oh apresentável, um vegetal!

À noite, quando todo o mundo dorme,
Que as questões seguem tão profundas
Para um homem tão simples
Por favor, me diga o que aprendemos
Eu sei que soa absurdo
Mas por favor me diga quem eu sou
Quem eu sou, quem eu sou, quem eu sou.

bjus meus pequenos vegetais, fanáticos, criminosos, responsáveis e práticos! ^^

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Divã


Terça-feira eu enfrentei um frio de 7° pra assistir Divã. Todo mundo sabe.. filme por Martha Medeiros com a Lílian Cabral.

O filme é incrível. Inteligente e leve. Propõe relfexões sem ser do modo chato.. daqueles que dá vontade de gritar: "ahh! eu não quero pensar! me deixa ser burro!!"

Pode parecer piada, considerando a minha idade.. mas eu me identifiquei com diversas questões do filme e pra mim foi ótimo ver como a personagem passou por elas. Ela não se livrou de nenhuma, mas passou por todas e as aproveitou de um modo delicioso.

E aí vai uma das trilhas de Divã, que eu já gostava tanto, agora resignificada.


Não vou viver como alguém que só espera um novo amor

há outras coisas no caminho onde eu vou

às vezes ando só trocando passos com a solidão

momentos que são meus

e que não abro mão

já sei olhar o rio por onde a vida passa

sem me precipitar e nem perder a hora

escuto no silêncio que há em mim e basta

outro tempo começou, pra mim agora

Vou deixar a rua me levar

ver a cidade se acender

a lua vai banhar este lugar

e eu vou lembrar você

É, mas tenho ainda muita coisa pra arrumar

promessas que me fiz e que ainda não cumpri

palavras me aguardam o tempo exato pra falar

coisas minhas, talvez você nem queira ouvir

Já sei olhar o rio por onde a vida passa

sem me precipitar e nem perder a hora

escuto no silêncio que há em mim e basta

outro tempo começou, pra mim agora.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Inteligência zarolha

"A inteligência parcelar, compartimentada, mecânica, disjuntiva, reducionista, quebra o complexo do mundo, produz fragmentos, fraciona os problemas, separa o que é ligado, unidimensionaliza o multidimensional. Trata-se de uma inteligência ao mesmo tempo míope, presbita, daltônica, zarolha. Elimina na casca todas as possibilidades de compreensão e de reflexão, matando assim todas as chances de julgamento corretivo ou de visão a longo termo. Quanto mais os problemas se tornam multidimensionais, mais há incapacidade para pensar essa multidimensionalidade; quanto mais a crise avança, mais progride a incapacidade para pensá-la; quanto mais os problemas se tornam planetários, mais se tornamimpensados. Incapaz de considerar o contexto planetário, a inteligência cega produz inconsciência e irresponsabilidade".
- da necessidade de um pensamento complexo, Edgar Morin.

o "meu" problema?
a "minha" crise?
o "meu" consumo???
- inteligência zarolha -

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Um expositor

Um pouco mais de 4 meses separada! Depois de tantas festas, cervejas e bocas.. eu finalmente posso ficar só! Existe um período depois de um término de fase em que se quer viver tudo e nada de uma vez. Passado esse período, pode-se voltar a escolher o que se quer viver, aos poucos. Esse meu eperíodo chegou, ainda bem! Agora eu posso voltar aos meus critérios, voltar a ficar muito tempo sóbria, e voltar a ficar só comigo. Eu e a companhia dos meus livros, filmes, músicas e anotações. Tem gente que acha que isso tudo aconteceu rápido demais pra mim. Tanto o me "jogar na boêmia" (1 semana depois de tudo?) e no agora, "sair" dela. Mas isso é o que acontece aos arianos e a todos os outros intensos e impacientes. Ariano não paga nada a longas prestrações, o negócio é a vista. Quase morre... mas tem como bônus o fato de não pagar juros.
Eu estava lendo Montaigne semana passada (recomendo, hein? Ensaios, ótimo!), e encontrei algo que, se não é uma motivação, é pelo menos umas justificativa pra minha exposição. Montaigne, como eu (santa pretensão! ou eu, como Montaigne) escrevia sobre si para passar algo. Usava sua própria vida como objeto de engrandecimento ou de escárnio e tinha nele mesmo o exemplo para suas divagações. Um expositor, as same as I.
Ele diz em um dos Ensaios: "(...) os meus erros já são quase naturais e incorrigíveis; mas, quanto os homens exemplares são úteis ao público fazendo-se imitar, eu o serei talvez, fazendo-me refugar (...) Publicando eu e acusando as minhas imperfeições, alguém há de aprender a temê-las. As partes que eu mais estimo em mim, tiram mais honra de me acusar que de me recomendar; eis porque aí é que eu recaio e me detenho com mais freqüência. Mas, no final das contas, nunca se fala de si sem dano: as condenações em boca própria são sempre acreditadas; os louvores, desacreditados".
Sim, é ônus, mas é também exemplo e libertação.

Bjus, queridos.