domingo, 14 de março de 2010

Toda nudez será castigada?

Graças a Deus eu consegui colocar algumas leituras em dia nessas férias (e parece que só nas próximas isso vai voltar a acontecer) e "Amor É Prosa, Sexo É Poesia" do Arnaldo Jabor foi um dos livros que li em uma sentada - com sorte, nas areias de Floripa.
Por uma enorme empatia com uma das crônicas do livro e por concordar com os termos em que ele colocou o assunto eu resolvi escrever sobre estas coisas as quais eu já tinha pensado escrever há tempos. Ele fala em uma falsa liberdade sexual contemporânea que torna as pessoas, especialmente as mulheres, em mulheres-objeto (assunto já tão recorrente), mas reflete se não é possível que esta crítica esteja embasada no fato de ele ter sido "barrado do baile".
Bem, este é o motivo para eu nunca ter escrito sobre isto antes, mesmo tendo tantas oportunidades midiáticas. Atualmente a certeza de que um corpo sarado em roupas justíssimas traz felicidade é tão grande, que criticar certos comportamentos te coloca automaticamente no rol das invejosas e incapazes; a convicção de que este parâmetro é o que todo o mundo quer pra si é tão plena, que tu vai parecer, no mínimo, uma mentirosa.
Ainda assim vou arriscar parecer uma "barrada no baile" como Jabor. Eu não sou moralista, nem contra o nudismo, o erotismo.. longe disso! - quem me conhece sabe que a censura passa longe de mim - eu estou muito mais para alguém "a favor". A favor do bom senso, da não relativização de algumas coisas, do mistério, da liberdade verdadeira e que inclui a liberdade de ser - com todas as imperfeições, tormentos e infelicidades que isso possa significar.
Eu cansei desse papo de "ser velho mas parecer jovem" ou "ser velho, mas com cabeça de jovem" ser considerado uma mensagem positiva. Que há de tão ruim em ser velho? Em pensar como alguém de acordo com a sua idade que muito já experenciou e parecer de acordo com seus ossos, seus traços, que muito já suportaram? E essa obrigação de ser feliz então? Eu não estou aqui pra falar exatamente destas coisas hoje, mas eu tenho que protestar agora caso não queira, mais pra frente, me sentir obrigada a me submeter a sessões de shakes energéticos para uma jovialidade que não tem fim e a sessões de choques dérmicos pra conquistar uma elasticidade que já se foi.
Eu acho sim que a tal nova siliconada Geyse não soube se vestir de acordo com a ocasião (que era de estudo), e que provavelmente também não soube "se portar", afinal de contas, vê-se profissionais do sexo mais respeitadas do que ela foi. Acho sim que o fenômeno mulheres-fruta 'bundaliza' a mulher, lhe tirando o valor genuíno mas, principalmente, os desejos. A colocando como mero objeto a servir o sexo oposto, e acho inclusive que a pornografia atual carece de erotismo. Como disse o Jabor na sua crônica, as revistas masculinas parecem mais com catálogos de carros à venda e com "peças" avulsas, compradas separadamente e "instaladas" no carro, do que de fato incitam à fantasia, ao erótico.
Mais uma vez, não sou puritana ou moralista (aliás, nem sei por que me defendo tanto disto, talvez por ser o outro extremo na moeda) - e nem acredito que eu ou o Arnaldo fomos barrados do baile - o que eu acredito, é na opção de fugir do padrão de corpos fabricados em academia (o que fez todo mundo parecer igual no primeiro Planeta Atlântida que eu fui), de erotizar-se com o que é de fato real, corpos reais, pessoas reais e, principalmente, acredito que mesmo o erotismo não é um fim em si, mas algo humano, que carece de sentido.

"Essas lindas mulheres são pagas para não existir,
pagas para serem um sonho impalpável,
pagas para serem uma ilusão".
Arnaldo Jabor, o mesmo cara que, ao ver a Juliana Paes nua na Playboy se decepcionou profundamente pois soube que aquela mulher não era mais o mistério, a menina que ele adorava secretamente, era apenas uma bunda. Era tudo só uma bunda.

Um comentário:

Vinicius disse...

...e que bunda! hehehehe
Adorei o texto e fiquei curioso em ler o livro. Sempre tive vontande de ler, mas nunca parei para ver se realmente queria saber o que Arnaldo Jambor pensa sobre amor e sexo. Sei lá, acho que não gosto dele, justamente por esse papinho de falar que se decepcionou com a Playboy da Juliana Paes, por ter descontruido a menina ingênua e pura que ele construiu. Também me decepcinei, mas por perceber que ela não foi/é fotogênica, mas continuo adorando a bunda dela...
enfim!
mas quero ratificar, adorei a afirmação "acho inclusive que a pornografia atual carece de erotismo". Deu até vontande de escrever sobre isto. beijos