sexta-feira, 22 de maio de 2009

Mentiras

Eu definitivamente não sou o tipo de pessoa que escreve resenhas de livros ou filmes (a menos que eu seja obrigada a isto). Eu sou o tipo que indica, sem dar qualquer pista do enredo e espera que a confiança da pessoa no meu bom gosto seja o bastante para motivá-la. Mas é diferente com “Mentiras”, de Philip Roth. Ele é um daqueles livros apaixonantes. Ai que falta eu vou sentir daquele escritor insuportavelmente adorável! E daquela mulherzinha adoravelmente insuportável!
Fiquei em duvida sobre que parte do livro transcrever para vocês, mas acabei me decidindo sobre uma que eu acredito bastante. Ou penso acreditar. Ou prefiro fingir que acredito.
“- É verdade, com o amante a vida cotidiana desaparece. É o mal de Emma Bovary. No primeiro impulso de paixão da mulher, todo amante é Rodolphe. O amante que a faz gritar para si mesma: “Tenho um amante! Tenho um amante!” “Uma espécie de sedução permanente”, como diz Flaubert.
- Pois é meu livro de cabeceira.
- E qual é a parte que você prefere?
- Oh, a parte brutal, é claro. Quando ela corre para Rodolphe no final por dinheiro, quando ela implora três mil francos para salvar-se e ele responde: “Eu não tenho, minha querida senhora”.
- Você devia ler um pedaço toda noite em voz alta para a sua filha, na hora de dormir. Flaubert é um bom guia sobre os homens para as meninas.
- “Eu não tenho, minha querida senhora”. É uma delícia.
- Eu costumava dizer aos meus alunos que não seriam necessários três homens para ela passar pelo que passa. Um basta, primeiro como Rodolphe, depois como León, e depois como Charles Bovary. Primeiro o arrebatamento e a paixão. Todos voluptuosos pecados da carne. Entregue a ele. Arrebatada. Depois da cena tórrida em seu castelo, pentando os cabelos com o pente dele, e assim por diante. Um amor insuportável com o homem perfeito, que faz tudo de maneira esplendida. Depois, com o tempo, o amante fantástico se desgasta e se transforma no amante trabalhador, o amante pratico: e vira um León, um simplório, no fim das contas. Começa a tirania do real.
- Como assim um simplório?
- Um caipira. Um provinciano. Gentil, atraente, mas não exatamente um homem de bravura, sublime em todas as coisas, sabedor de tudo. Um pouco bobo, entende? Com alguns defeitos. Um pouco idiota. Ainda ardoroso, às vezes encantador, mas, a bem da verdade, com uma alma de funcionário publico. E depois, com ou sem casamento, embora o casamento sempre acelere um pouco as coisas, aquele que foi um Rodolphe e depois se transformou em León se transforma em Bovary.”
“... a realidade acaba vencendo o sonho...”.

A transparência em Mentiras é como um golpe, mas é um golpe de misericórdia.. de certa forma doce. Não, não é um livro pra qualquer tipo de pessoa... mas se você gostou de “O Apanhador no Campo de Centeio”, por exemplo, pode lê-lo tranquilamente. Será algo agradável.
E se todos os argumentos não bastam, resta dizer: “li o livro de uma sentada”.
Vamos lá então! Indicações do mês!
Para os moralistas que tomam chá das cinco: filme – Pecados Íntimos
Para os realistas/existencialistas de plantão: livro – Mentiras, de Philip Roth.
Enjoy it!

Um comentário:

Vinicius disse...

Não vou falar do seu post, mas do post que sugeriu.
Fale-me mais sobre isso? rs
Deixa mais claro a tua ideia.
abraços

p.s.: é ótimo trocar figurinhas