terça-feira, 11 de agosto de 2009

E Sartre, han?

Desde que conheci Sartre simpatizei com sua liberdade irrefutável de cara. Ao contrário de outras pessoas, que se sentiam desconfortáveis com a responsabilidade que tal liberdade carregava eu me senti muito bem com a segurança que vinha dessa responsabilidade. Meu raciocínio é simples: quanto mais porcentalmente meu destino depender de mim, mais porcentalmente poderei controlá-lo. Essas coisas todas de controle e descontrole são confusas.. e também são assunto pra outro post, deixemos de lado por enquanto.

Agora, pela primeira vez até então, eu me vejo em cheque com Sartre. O nome: relações.

Quem acompanha meu blog há mais tempo ou me conhece pessoalmente sabe que eu sai há 6 meses de uma relação de 5 anos. Uma relação com toda minha liberdade de decisão. A liberdade de apostar tudo, investir tudo e a liberdade de errar ao máximo e de me anular ao máximo. Abri mão de todas essas liberdades há 6 meses pra vivenciar outras. Entretanto, nada me parece liberdade agora nas relações. Quando eu paro pra pensar em todo o meu investimento, eu vejo que não houve liberdade ou decisão alguma.. sim! Eu fiquei totalmente à mercê do destino, quiçá de outra pessoa! Que porra de liberdade é essa?? (com o perdão da palavra, à serviço do dramático no texto)

Quando eu vejo alguns casais que me parecem felizes, eu calculo e recalculo o quanto eu posso estar me enganando ou até o quanto eles podem estar enganando a si mesmos e tudo isso não parece feito pra mim. Não parecia feito por que eu não pensei encontrar alguém que eu admirasse o suficiente pra acreditar numa coisa dessas denovo, e agora não parece feito por que pasmem, talvez eu não acredite mesmo é no amor. Não acredite que ele seja suficiente ou pelo menos não acredite que ele dure. E acredito menos ainda na minha liberdade dentro dele.

A insegurança faz com que nos agarremos a nós mesmos, a pessoa que conhecemos há mais tempo, a relação que invariavelmente deu mais certo até agora e provavelmente a que dará mais certo até o fim dos tempos, do teu tempo. Eu estou agarrada à mim mesma com toda a minha força, agarrada à minha solidão ensolarada, mas sabe o que Christopher McCandless me disse hoje? Que "a felicidade só é real quando compartilhada". Agora me diz, onde é que fica Sartre nisso tudo?

10 comentários:

gregtest disse...

Conheço melhor relações do que Sartre. E relações costumam, realmente, nos privar da liberdade para a qual estamos condenados segundo Sartre. Não toda liberdade, mas algumas partes dela.

Trocamos um pouco de liberdade por um pouco de certeza. Toda relação acaba precisando de um pouco de certeza caso ela tenha alguma importância. E acho que a certeza de amor recíproco sempre vale um punhado de liberdade, por mais que desilusões digam o oposto. Penso isto porque não podemos viver sem certeza alguma, e entre as opções de certezas fundamentais, a que ainda considero melhor cotada é a certeza da possibilidade do amor. Sem ela as outras não fazem muito sentido e o pacote parece sempre incompleto.

G. disse...

Aiai: Estou suspirando tanto por concordar de você, quanto por lamentar minha concordância. Eu recém (faz um mes e meio) de uma realção que não foi tão comprida quanto a sua, mas durou lá os seus 2 anos e meio, e a enrolação (vai e volta) chegou a durar ao todo uns 4 anos. Agora me vejo cética, indisposta, com real preguiça de começar toda essa lenga lenga denovo. É sempre a mesma coisa, os dois idiotas pensam que se apaixonam, até que tudo dê errado: ou o amor acaba para um deles, ou para os dois, ou se descobrem muito difrentes do que se idealizavam no início, ou tu fica casada 50 anos numa coisa meio morna e acomodada. Isso não é liberdade, isso é carma, sei lá, não tem como sair muito dessas linhas. Eu também acredito em Sartre em relação à sua tão pregada liberdade, mas em menos intensidade, o que não cabe discutir aqui. O fato é que pra mim também aparece o fantasminha do Chris me dizendo que happiness is only real when it's shared, e eu fico meio confusa. Quem sabe amanhã, ou depois, a gente fique tçao inebriado por uma nova paixão que fique meio irracional e mude de ideia. Mas eu, agora, em pleno gozo racional das minhas faculdades mentais, concordo com teu texto. Suspiro denovo...
Beijão.

G. disse...

Perdoe os erros portuguesais do meu comentário, mas escrevi bem rapidinho aqui no meio do trabalho hehehe beijos!

someone disse...

huahsuahusuhs...
e eu n sei?!hahaha
;)
rs
viu as fotos das tattos que eu mandei por e-mail?
que achou?
bjoOs

Rafael Gloria disse...

Como já dizia Bandeira:

"Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma e que estraga o amor.
So em Deus ela pode encontrar satisfacao.
Nao noutra alma.
So em Deus - ou fora do mundo.

As almas sao incomunicaveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas nao."

Leila Ghiorzi disse...

Nossa gente!
Que depressão!

Também saí de um relacionamento longo (acreditem, muuuito longo), faz dois meses e meio, bastante machucada até.

Acho que tem alguma coisa na água de Porto Alegre, tá todo mundo terminando, huahuaua.

Mas não acho que tudo tenha sido um erro, já que durou seis anos (isso mesmo, seis anos). Se durou tanto tempo, alguma coisa teve de bom.

Aprendi bastante e acredito que saí mais forte, mais segura.

Agora, quero exercer a minha liberdade sim, mas sei que um dia vou encontrar outra pessoa que me faça querer abrir mão dela (mas espero sinceramente que demore um bocado de tempo, hehehe).

Só acho que a gente não pode achar que tudo o que passou foi ruim. Acho que a gente deve aproveitar ao máximo o momento.

Apesar de tudo, concordo com o Greg de que "a certeza de amor recíproco sempre vale um punhado de liberdade".

João B disse...

oi!
Boa pergunta, não tenho certeza, mas acho que nisso tudo o Sartre fica perto do Camus e do Kundera. Penso que o amor "verdadeiro" é raro, acontece uma ou duas vezes em um século. Ou talvez sequer exista isso a que os homens se habituaram a chamar "amor", palavra que nasce da observação de um certo numero de disposiçoes exteriores, que ganham uma ordem inteligivel nos romances e cançoes. Nos habituamos a organizar e nomear da mesma forma essas disposiçoes em si mesmas disformes que permaneceriam incompreenciveis sem um modelo de inteligibilidade herdado em narrativas. A mim sempre pareceu experimentar em cada relação uma mistura muito grande de sentimantos diversso não totalmente determinados - afeto, carinho, desejo... - em proporçoes a cada vez tão variadas que seria leviano chamar da mesma forma.
Pensso que qualquer relação desse tipo só pode ser autentica se for totalmente livre, isso implica em não esperar do outro nada e não exigir-lhe nada. Caso conrario, não temos nenhu sentimento verdadeiro pelo outro, é somente em função de algo que o outro nos proporciona que o amamos, ou seja, no fundo, amamos apenas a nos mesmos; o amor se torna então invariavelmente egoista e terrivelmente opressor, uma tentativa de prisão e uma exigencia de satisfação. É dai que nasce todo o descontentamento que esperimentamos cada vez mais nas relaçoes, pois ninguem nunca sera capaz de satisfazer a outro. Kundera chamou o amor em que não pedimos nada em troca de "amor desinteressado", como o que sentimos por um animal de estimação. Mas, tenho minhas duvidas de que sejamos capazes dele, mesmo em relação a animais. Uma pena.

Pam disse...

João.. como não tenho meios de escrever-te.. nem e-mail.. nem blog.. vou te responder por aqui!
Gostei muito da tua participação.. e acho mesmo que provavelmente estejas coberto de razão. Entretanto gostaria de te dizer que teu texto me deixou mais tranquila, mas não deixou.
A parte da liberdade okay, a parte das expectativas.. talvez não tão okay.. já que é uma coisa praticamente automática.. ainda assim é possível "condicionar-se" as coisas.. e digo isso do modo mais 'livre' q possa existir. Renato Russo disse que "disciplina é liberdade" e eu concordo com ele em diversos contextos.. esse é um deles. Quando se fala em "ciúme" por exemplo, eu acho que condicionar-se a pensar que ele é 'só vaidade' (citando agora Raul Seixas) pode ser extremamente libertador..
maas.. voltando.. o que me preocupa na tua passagem é o seguinte:
" somente em função de algo que o outro nos proporciona que o amamos, ou seja, no fundo, amamos apenas a nos mesmos"
isso me preocupa sob o seguinte aspecto.. o que me deixa mais maluca na situação atual é que a pessoa em questão é simplesmente igual ao ideal na minha mente (e eu sabendo que esse ideal não existe, afinal de contas está na MINHA MENTE, parecendo tão próximo no real a conclusão óbvia é de que há um engano.. e um grande engano.. que resultará em um grande tombo)então tu me diz isso.. sobre amar a si mesmo.. e eu me pergunto: se eu amo o ideal-real na minha mente eu não estou amando a mim mesma???

Pam disse...

Desde que eu li 'o apanhador no campo de centeio' eu fiz uma msg mental da tal musica que diz: "se alguém encontra alguém atravessando o campo de centeio". Pra mim é muito simbólico a repetição do alguém.. significa uma alma, mas não uma alma qualquer, uma alma 'igual' a tua.. sendo que tu te chama alguém e o outro nesse momento também é alguém.. então 'ALGUÉM encontra ALGUÉM no campo de centeio..' duas almas "iguais" se encontram.. e vou te dizer.. até agora é isso o que eu sempre quis.. talvez não uma alma igual a minha, mas uma alma que compreendesse a minha e que portanto tivesse sim alguns aspectos iguais.
Mas eu não quero amar a mim mesma - pelo menos não mais do que eu já julgue amar - a intenção não deveria ser esta..
sei lá..
vou pensar mais!!
obrigada pelo coment!

muah!

Everton disse...

HEHE maldita liberdade de ser livre.

Um beijão Everton