"Se um dia eu pudesse ver
meu passado inteiro
e fizesse parar de chover
nos primeiros erros".
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Pode chover! - Postagem Temática
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
ODE
gostava de reparar na boniteza das pessoas e descobrir muita variedade de beleza nelas, nas vitrines, nas casas, nas flores, nas roupas, nas tardes, e usava dela para exclamar, em alto e bom som, meu contentamento com o mundo, meu descontentamento com o mesmo mundo, meu espanto com suas novidades diárias e seus bordéis de cores em tudo.
Por irmandade com ela, topei viagens, fiz trocadilhos na alta filosofia do humor, e ainda preservei a doce inquietude com suspenses de boas vésperas no peitinho sonhador.
Por causa dela fui suspensa do colégio, apanhei uma vez de meu pai, namorei escondido, levei profundos beliscões de minha avó, brinquei de carrinho de rolimã, de boneca, soltei pipa e desobedeci.
Por acreditar nela, me casei amando, tive filho, me separei, mudei de estado, de profissão, viajei, me vesti como se fosse carnaval para uso diário,
me expus, falei coisas simples que todo mundo vive mas finge que não.
Pulei muros, regras, fiz bainhas cada vez mais para cima nas minhas saias.
Por causa dela lapidei dores, engoli uns sapos, cuspi rãs, recusei, sorrindo de bom grado, propinas, mordomias e cargos, piscinas e conchavos. Por ela fiz amigos livres e originais, iguais a todo mundo e ao mesmo tempo não parecidos com ninguém. Agarrada firme à sua mão, criei neologismos, inventei atitude, expressão e moda. Por ir fundo nela, pintei o sete, fiquei de castigo por fazer arte e saí do castigo pela mesma arte. Em seu nome, tratei crianças como senhores, escritores, repentistas, sábios e mentores,
criei filho com alegria, respeito, com sim e não mas sem opressão.
Cantei alto nas ruas urbanas sobre as bicicletas, assobiei alto dentro dos coletivos, testando a afinação do bico, por causa dela me espelhei nos passarinhos, me repararam muito e fui chamada de maluca moleca irresponsável irrotulável puta pagã e poeta.
Por causa dela passei noites procurando o amor, errando e acertando versos de amor, e por causa dela o amor me encontrou.
Com ela desfrutei de bonanças, compreendi e aceitei temporais. Com ela dei música a minha voz, fôlego aos meus princípios, inícios aos meus finais.Mas foi exatamente ela quem me ensinou a seguir enrolada como meus cabelos, resoluta como o vento, límpida como a estrada que eu via e vejo, clara como as palavras que digo e escrevo,
frágil e forte como os meus desejos.
Pois, de joelhos estou por ela, voando estou com ela, grata que sou a ela... Porque quando tudo pareceu-me faltar, a LIBERDADE me deu colo.”
(LUCINDA, Elisa. In: Extra Classe. Ano 8. N. 69, mar. de 2003. p. 22.)
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Tanta fé - Postagem Temática
O meu post é uma construção a partir de vários outros do Sintonizados que postaram sobre fé e me fizeram pensar sobre. O Vinícius (do pensamentos avulsos), com a definição 50-50 que me fez parar pra pensar; a Gabi (do caos criativo), que nem postou sobre fé mas falou de amor, antigos amores, antigas fés no amor; a Mariana (do devaneios grátis), que "põe toda a fé" em uma rosa que me faz lembrar a minha rosa, a rosa do Pequeno Príncipe e tantas outras que ganhei ou não.
Eu encaro a fé como algo que vem pra aliviar a barra das pessoas. Quando algo tá muito muito ruim, a gente se apega no incerto por que o “certo” dá um medo danado. O que a gente tem por “acreditar piamente em algo” está mais pra crença, como o Vini explicou bem. Entretanto, como eu tomei gato por lebre e fé por crença quando pensei de cara na postagem, eu vou mantê-las como sinônimos, só como “licença poética”, okay?
A Gabi falou de fé no amor passado (2006?) e a Mariana falou de fé em um amor-rosa atual. Eu recuperei minha fé no amor. Por um bom tempo eu achei, como disse algumas vezes o DeMattos, que ele era de fato invenção da Globo, pelo menos o amor romântico do felizes para sempre das histórias infantis.
As historinhas são cretinas, elas nos fazem crer que na verdade não existe vida depois do juntos, o felizes para sempre está entre o imaginário e o nada, o inexistente. Não há vida para nenhuma princesa dos contos depois de encontrada-encontrar seu esperado príncipe. Das muitas rosas colhidas na minha vida, algumas se foram e outras não, e isso deixou a crença na vitalidade delas nas mãos do acaso, a efemeridade virou uma imposição.
O que se tem é um problema de ângulo e diagnose: a crença ou a fé é algo transcendente, que não pousa neste ou naquele conceito, algo 50-50, de possibilidades, de visão. A fé não termina com a falibilidade das fórmulas das rosas, mas ajuda justamente a enterrá-las para o começo de uma nova pesquisa, para a busca de uma nova fórmula.
E de tanta miudez do senso comum, não cabe tanto amor na nossa fé, nem tanta fé na nossa crença. Mas tudo cabe em nós.
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Essa postagem é um oferecimento do blog Sintonizados.
Os blogs citados estão nos links favoritados.
Sugestão para próxima postagem: cartas.
terça-feira, 13 de outubro de 2009
3 vidas

Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra gente dar uma banda lá fora
Falando coisas de amor
Nenhuma imagem sofrida
Nos despedimos da dor
Pra dar a banda da forma mais leve
Falando coisas de amor
Ela que era triste riu
Antes tão fechada aos poucos se abriu
Sou um velho fraco, eu sei
Mas me fiz de moço
E doido dancei, dancei
Fui faroleiro engraçado
Fui homem sério também
Ela contava as estrelas sem pressa
Com olhos de vaivém
A nossa marcha era alegre
A lua cheia chegou
Pra ver a gente de banda na rua
Falando coisas de amor
Ela que era triste riu
Antes tão fechada aos poucos se abriu
Sou um velho fraco, eu sei
Mas me fiz de moço
E doido dancei, dancei
Depois jamais desencanto
O que era doce durou
Trocamos nossos antigos lugares
Por um que nos encantou
Vivemos no mesmo canto
Em nenhum canto uma dor
É como a gente de banda lá fora
Falando coisas de amor.
- em celebração aos 3 meses que parecem 3 vidas inteiras.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Simplicidade voluntária e (des)padronização
Estou feliz por estar voltando um pouco às origens do blog – escrever sobre mim mesma, minhas angústias – porém sem ser radical ao ponto de perder o estilo último de escrever – a saber, coisas gerais, universais, sob minha perspectiva. Estou, pra variar, num movimento de desconstrução de alguns hábitos e construção de outros. Fiquei contente por saber que este não é um movimento só meu, mas que é tão universal quanto a própria arte.
Li em um estudo sobre “o ser humano e a possibilidade da arte”, pra Filosofia, algo assim sobre as escolas artísticas: “Ela é em si, uma simulação da desconstrução e construção contínua dos sujeitos. Um ciclo que corresponde ao processo de abertura ou ruptura de algo estabelecido, que culmina numa descoberta, numa transformação, e termina no estabelecimento de outro molde ou modelo, isto é, num fechamento que durará somente até o próximo rompimento”. O próprio autor diz que isto é próprio da vida e dos sujeitos.
Além da redução dos supérfluos e de uma busca por simplicidade – voluntária – eu estou praticamente em guerra com as padronizações. O bom é que tem dado resultado, devagarinho...
Eu entendo que as padronizações e a ordem significam segurança, que pôr as coisas em ordem deixa as pessoas seguras, mas crescer não é superar isto? Pra mim sim. Estou aceitando menos então, o que têm padronizado pra mim. E quem parar pra pensar sobre isso vai ver que não é só a “cultura” e a “sociedade” (termos tão “formais” e “distantes”) quem agem nisso, e sim coisas cotidianas. Chame cultura e sociedade de familiares, amigos, quiçá terapeutas. Chame de conhecidos, transeuntes. Desse modo fica bem mais claro.
É uma baita peleia mas dá sim resultado, e dá sim pra se livrar de um pouco disso. Se é utopia pensar que de todo (e provavelmente seja), me contenta pensar que posso me livrar do máximo possível. Diria Lulu que “assim caminha a humanidade..”, mas eu vou no sentido contrário.